Monday, December 13, 2004

 
Was on line as u wrote. Y do u even care ? Where do u reckon this guy went to school ? What kind of people do u reckon he hangs around with ? More importantly: does anyone outside Brazil (or SP...) know who he is ? Most importantly: did u get the upswing in the Euro / Yen ? Where the hell is your money ?

AF

 

Caro Abadius,

eis que se passaram alguns meses desde nosso último intercâmbio. Imagine só o que fazem comigo esses ares serranos: escreví recentemente minha primeira carta a um jornal com referência a um artigo e seu autor ! Seu conteúdo é auto explicativo:



São Paulo, 12 de Outubro de 2004

Sr Lauro Machado Coelho:

A leitura de seu texto "Grandes conquistas e rumos a serem trilhados" (OESP, 8 de Outubro de 2004) causou-me um impacto pessoal mais forte que qualquer artigo de jornal Brasileiro ou estrangeiro que eu tenha lido nos últimos meses. Achei-o inexplicavelmente fora de sintonia com o que conheço do evento que o Sr comenta, o espetáculo comemorativo do centésimo número da revista "Concerto" em que tocou a Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo e o solista Fabio Martino.
Não posso pretender comentar qualitativa ou tecnicamente a execução das composições apresentadas. Primeiro pois sequer estive na apresentação que o Sr comenta no artigo. Segundo pois não sou especialista na matéria em pauta. Acho que posso, porém, comentar a forma de sua crítica como leitor e curioso musical. Em função da surpresa que seu artigo me causou ouví a gravação feita do concerto criticado, pela Radio Cultura, nesse último domingo às 12:00hs. Creio ainda que o fato de eu ter estado presente em uma apresentação anterior na Sala São Paulo do Imperador pela mesma orquestra e solista me autorizam a alguma idéia sobre o que o Sr comenta como impressão musical. E, finalmente tive acesso direto a um bom número de assistentes na platéia, todos, como eu, curiosos musicais com instrução informal no tema em variados níveis de profundidade.
Dadas as limitações acima, eis a minha crítica de sua crítica: seu texto dá ao leitor a impressão de que a noite teve um herói, o maestro Carlos Moreno, cujo talento tem estimulado grande evolução na Orquestra sob sua regência. O Sr descreve com ampla criatividade vocabular as positivas sensações musicais da execução: somos informados que as Bachianas Brasileiras n 2 foram feitas "com (...) langor tropical", que o regente seus trabalhos de "forma rugosa e impressiva" e, que o maestro no Concerto Op 73 "forneceu as intenções certas para a interpretação desta peça." Que é quando entra em cena o vilão da noite, o "promissor" mas "verde" Fabio Martino. A ele são reservados as seguintes adjetivações e adverbiações: "muito amaneirada a forma como abordou o Allegro inicial," e "um tratamento exibicionista da frase." Fabio Martino ainda é criticado por "esbarradas" e "frequentes notas equivocadas no Rondó final", esse executado "de forma apressada e superficial." Espero que o Sr concorde comigo que, a despeito das qualificações positivas sobre as qualidades e talento que o Sr interpõe em meio a essas críticas, o efeito geral de seu texto é de uma grave e ampla restrição à execução do solo na peça mais importante da noite.


Tudo isso me parece conflitar com a impressão inequivocamente expressada pela platéia nessa noite (e na noite anterior que mencionei na execução da mesma peça na Sala São Paulo). O Sr vê com freqüência um nível tão explosivo de expressão de satisfação do público ? E será esse público em ambas Salas tão desprovido dos recursos analíticos para compreender as falhas grosseiras que o Sr afirma terem sido cometidas pelo solista ? Os dois bis clamados pelo auditório foram de execução igualmente frágil que o Sr entendeu corroboradas suas percepções de imaturidade e imperfeição técnica ? O Sr crê mesmo, tão em contradição com a sensação da platéia desta e de outras noites, que o solista, brioso e opinativo, esteve aquém da orquestra, competente, em franca evolução, mas previsível, e não o reverso ? Arrojo juvenil (que aceito alguns possam achar exagerado) não descreve a primeira parte do concerto melhor do que exbicionista ? Está certo descrever esbarradas (no plural) e frequentes notas erradas como uma caracterísitca da última parte da peça ? Elas certamente escaparam a mim e muitos outros que, ao contrário, terminaram a audição do concerto em admiração pela superlativa qualidade técnica do Fabio Martino. E ao observador humano e sensível há de saltar aos olhos sua distância do fato do concertista ter 16 anos de idade e mostrar invejável coragem e orgulho, qualidades que emocionaram tantos que o viram nesta e noutras apresentações. Hamlet só pode ser interpretado por Richard Burton após décadas de amadurecimento ? Uma talentosa e criativa interpretação juvenil não merece admiração em sua crítica – entenda-me, sem desprestígio de sua percepção dos pontos ainda fracos ? É certo um jornalista experiente e responsável confundir as duas coisas, sob pena de esmagar o ímpeto de um menino cujas habilidades de encantar estão ficando claras ? Digo-lhe com toda intenção construtiva que se em minha atividade profissional – no caso gestão de investimentos financeiros -- pautasse as avaliações de meus talentos em sua metodologia crítica, inibiria na fonte o desenvolvimento de novos criadores de riqueza no futuro. A mim, leitor, seu texto passou uma sensação de afetação por causas veladas. É menos uma severa repreensão orientativa do que um desproporcional castigo sem maiores explicações. Tão mais grave por ser escrito por alguém de sua estatura num veículo com ampla voz que é o Estado de São Paulo.


Por essas razões lamento esse seu artigo. Creio que o tempo curará os equívocos que enxergo na forma de seu texto, e que as partes analisadas pelo Sr tomarão seus lugares relativos no mundo e mercado da música em função de seus legítimos talentos. Mas eu, como homem de finanças que sou, e consequentemente um administrador de riscos, digo-lhe que sou, em termos relativos, "comprador" de Fabio Martino e "vendedor" de Osusp. O Sr estaria preparado para arriscar algum pedaço do seu patrimônio na outra ponta ?


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